domingo, 10 de outubro de 2010

CINE ECO 2010, “Bom Cinema e Bom Ambiente” em (Bio)Diversidade

Nesta décima sexta edição do Cine Eco, Festival Internacional de Cinema e Vídeo do Ambiente da Serra da Estrela, que se organiza anualmente em Seia, desde 1995, acompanhamos as celebrações mundiais do Ano Internacional da Biodiversidade. Mas, para nós, todos estes anos foram anos de diversidade e de biodiversidade, porque durante todas as nossas anteriores edições esta foi sempre uma das nossas prioridades. Consciencializar para a necessidade de preservar a biodiversidade e a diferença, quer ao nível dos seres vivos, quer ao nível das variadas culturas de diferenciados povos, quer no âmbito das cinematografias e dos valores humanos. Não é por acaso que, desde muito cedo, apresentamos, fora de concurso, uma secção que se chama “Outros Povos, Outras Gentes”. Também não é por simples casualidade que, a concurso, temos privilegiado sempre as mais diversas temáticas, vistas por olhos de cineastas das mais distintas proveniências dos cinco cantos do mundo. É bom saber e fazer constar que não somos únicos no mundo, que há outros, “diferentes” de nós, e que a harmonia entre os diferentes é essencial para a preservação desta Terra, desde sempre em risco, precisamente por defeitos e vícios que o não têm em conta. Ou que violam este princípio de sã convivência.
Este Festival nasceu do querer de um grupo empenhado de cidadãos que acreditava ser possível (e cada vez mais imperativo) melhorar a situação do ambiente da nossa Terra e que, simultaneamente, amavam o cinema. De ano para ano, fomos acompanhando a produção mundial e nacional que rapidamente passou de um aflorar cauteloso e muitas vezes “provinciano” de algumas das causas que ameaçavam o ambiente para a discussão planetária de um dos temas de maior pertinência da actualidade. Julgo mesmo que esta é, presentemente, a única causa global, que pode ser vista sob diversas perspectivas, é certo, mas que não deixa de causar preocupações em cada mulher e homem de boa vontade.
O que nos move desde a primeira edição surge cada vez mais como uma evidência: defender o bom ambiente e o bom cinema. Não se trata tanto de “procurar sofregamente novidades” todos os anos. A realidade encarrega-se de nos trazer as “novidades”, muitas vezes trágicas, outras bem agradáveis de conferir, ao assistirmos a transformações graduais para a melhoria do planeta.
Não é, pois, necessário alinhar nesse rosário de mediocridades rançosas que quer tratar tudo muito rápido e muito pela rama, para atrair clientela, que nada retém e nada compreende. Um festival de cinema sobre ambiente tem de ser, por óbvias razões, um local de reflexão, de consciencialização, de debate interno e externo. Não se pode cativar multidões de um dia para o outro. Mas se, ano após ano, se for ganhando alguns mais para as causas que aqui se propõem a debate, já será uma batalha vencida, de uma longa guerra que terá de ser ganha por todos, se todos quiserem manter este planeta vivo, para si e para os seus descendentes.
Neste sentido, o Cine Eco não podia viver fechado nestes dias de Outubro passados em Seia. A sua actividade e a sua influência é, hoje em dia, muito mais vasta. Entre Outubro de 2009 e Outubro de 2010, o Cine Eco organizou mais de duas dezenas de extensões por todo o Portugal continental e insular: em Lisboa (Câmara Municipal de Lisboa, do Cinema S. Jorge ao Auditório de Monsanto) ou nos Açores (através da Secretaria Regional de Ambiente, em São Miguel, Terceira, São Jorge, Pico, Faial, com a participação de alguns milhares de espectadores), nas freguesias de Seia, no Algarve, no Norte, no Centro, etc. Contabilizamos assim muitos mais milhares de espectadores e uma invulgar projecção do nome do Festival e de Seia. Com uma curiosa confirmação: se há quinze anos havia cinco ou seis filmes de produção portuguesa, agora chegam à centena; se não havia uma única obra de produção local, de Seia e da região da Serra da Estrela, agora há quase uma dezena; se não havia escolas de cinema a projectar trabalhos de fim de curso com esta temática, agora há diversos. Finalmente, uma realidade recente que muito nos apraz registar. Há três anos que se realizam extensões no arquipélago dos Açores. Este ano temos meia dúzia de filmes, governamentais e particulares, a concurso. Este é, pois, o caminho certo, aquele que dá frutos. Visíveis.
Internacionalmente, o Cine Eco continua a impor-se: é membro fundador da Associação de Festivais de Cinema de Meio Ambiente (EFFN - Environmental Film Festival Network), de colaboração com o Festival Internacional de Cinema del Medi Ambient, de Barcelona (Espanha), de que faz parte igualmente o FICA, de Goiás. Este ano temos o prazer de saudar a presença, no Júri Internacional, de Cláudio Lauria, director do Cinema del Medi Ambient, de Barcelona (Espanha), e de Lisandro Nogueira, coordenador do FICA, Festival Internacional de Cinema Ambiental de Goiás.
O Cine Eco mantém parcerias com o Festival de Ambiente de Washington, um dos mais prestigiados do mundo, de quem recebemos no ano passado a visita da sua Presidente e fundadora, Flo Stones. Não esquecemos as parcerias já existentes com o Vizionária, International Video Festival, de Siena (Itália) e o Wild and Scenic Environmental Film Festival, de Nevada City (EUA) e o “Festival de Inverno”, de Sarajevo (na Bósnia-Herzegovina). E novas parcerias se avizinham, com propostas chegadas de outros festivais para se aliarem connosco nesta luta comum.
Passemos então a um relance rápido sobre o que vamos ver. Obras a concurso: Em 2010, o Cine Eco recebeu a inscrição de mais de quatro centenas de obras (423, para ser preciso) provenientes de mais de sessenta países. Um record, em termos de diversidade. A quantidade e a qualidade da grande maioria dos títulos visionados impuseram algumas alterações na sua pública apresentação e na organização das respectivas competições.
Assim, continuarão a coexistir um Júri Internacional e um Júri da Lusofonia, destinado este último unicamente à produção lusófona que não se enquadrou na competição internacional, mantendo-se a secção “Mostra Informativa”, onde poderão ser vistas obras de reconhecido mérito, mas impossibilitadas de estarem a concurso, quer por fugirem um pouco à temática deste certame, quer igualmente em função da impossibilidade física de horário e de disponibilidade dos jurados.
Deve sublinhar-se ainda a quantidade (e muita qualidade, nalguns casos) das obras lusófonas, com particular relevo para as produções portuguesas e brasileiras, que atingiram percentagens no cômputo geral nunca antes alcançadas. Uma menção muito especial para a produção com origem na região de Seia, e das Beiras, o que demonstra bem o impulso que a existência deste festival representa para este tipo de produção. Não são ainda obras-primas, mas demonstram um querer que justifica amplamente a sua projecção.
Secções paralelas: Para promover o cinema de qualidade, o Cine Eco criou, igualmente desde a sua primeira edição, secções paralelas, como “Outras Terras, Outras Gentes”, que pretende difundir um cinema menos visto pelo grande público, mas de grande qualidade, de cinematografias não muito habituais no nosso país. Em 2008, assim continuará a ser. Anualmente, o Cine Eco exibe ainda alguns “Clássicos do Cinema”. O bom ambiente ganha-se também com bom cinema. Bom cinema que os clássicos testemunham de forma brilhante. Este ano, aderindo à causa do Ano Internacional da Biodiversidade, escolhemos uma dezena de clássicos do cinema, na maioria documentais, onde este tema é uma realidade sempre presente. Ainda um pouco nesse sentido, e aproveitando a estreia de mais uma versão do também clássico “Robin Hood”, organizou-se um ciclo, “Na Floresta de Sherwood”, que, como se tentará demonstrar, é um tema ecológico.
O triunfo de Kathryn Bigelow na cerimónia dos Oscars de 2010, impôs o estudo da obra desta realizadora. Dedicamos-lhe uma retrospectiva (quase) integral.
A presença de Fernando Lopes, um dos mais prestigiados cineastas portugueses, como Presidente do Júri Internacional, foi motivo para revisitar alguns dos seus momentos de eleição, de “Belarmino” a “Sorrisos do Destino”.
As mortes recentes de Arthur Penn, Claude Chabrol e Tony Curtis colocaram a imperiosa necessidade de os recordar através de algumas das suas obras mais representativas. O desaparecimento de Maria Dulce leva-nos igualmente a regressar a “Frei Luís de Sousa”, para a lembrar com saudade.
“Só Animação” é o habitual ciclo dedicado ao público infantil e juvenil, em idade escolar, conservando uma relação íntima com as escolas e as crianças.
Finalmente agradecemos a presença e a entrega de todos os elementos que integram os diferentes Júris (Internacional, Lusofonia, Extensões e Juventude) que se disponibilizaram com amizade a acompanhar este evento. A todos os autores e instituições com obras a concurso, o nosso mais sincero obrigado – sem eles não haveria festival, e não haveria sobretudo um festival com um tão bom nível de participação.
A todos quantos ajudam a erguer esta iniciativa, quer seja nos contactos internacionais ou na recolha de elementos para fichas, na elaboração do catálogo ou na projecção das obras, na promoção publicitária do evento, a todos o nosso profundo agradecimento. Finalmente, e como sempre, a gratidão que não é (não deve ser) só de quem organiza este Festival, mas de todos os senenses, de todos os portugueses, e mesmo de todos os cidadãos do mundo a quem as questões do ambiente preocupam, à Câmara Municipal de Seia, na pessoa do seu novo presidente Carlos Filipe Camelo, que empenhadamente continua a apostar neste certame, e ainda aos companheiros de percurso Carlos Teófilo e Mário Jorge Branquinho.

Lauro António
director artístico do CineEco

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